#02 - entre nós
Nunca me esqueço dos seus olhos atentos e o semblante de quem genuinamente queria ouvir o que eu tinha pra dizer.
"Eu? Não acredito!"
A frase saiu da minha boca acompanhada de um arregalar de olhos que expressavam ao mesmo tempo medo e entusiasmo.
"Sim, ela disse que queria você".
E quando você, meu líder e a pessoa que, pra mim, seria a escolha óbvia dela, compartilhou comigo esse desejo, eu tremi na base.
Eu, que tinha acabado de receber o diploma de jornalismo (na época em que ele ainda representava alguma coisa) e ainda tava descobrindo o que faria a partir dessa profissão. Uma menina de 20 e poucos anos que talvez ainda nem entendesse direito o que significava ser responsável por todos aqueles projetos que você, genuína e habilidosamente, me fez perceber que poderiam ser liderados por mim.
Eu nunca vou esquecer a forma com que você me encorajou a encarar o desafio de criar o texto mais importante da minha curta trajetória profissional até ali. Foi um comportamento que me marcou muito e que, certamente, me fez enxergar a liderança com os olhos que enxergo hoje.
Não sei se já te falei isso, mas por um tempo eu pensei que você pudesse ter ficado ressentido com o fato de ela não ter te escolhido pra fazer esse texto tão importante. Vocês eram tão próximos… Mas eu fui percebendo, com o desenrolar do projeto, que a sua real preocupação era fazer todo o nosso extenso time participar de alguma forma daquele marco que estávamos construindo. Isso foi tão lindo de acompanhar e sentir; uma atitude que poucos líderes que eu conheci desmonstraram ter.
Sua forma de falar - um contador de histórias nato! - muito me inspirava, é verdade, mas foi na sua capacidade de escuta que eu encontrei referências para me tornar a líder que sou hoje.
Eu demorei um pouco pra desenvolver essa habilidade, confesso. Mas quando aconteceu, o seu rosto foi a primeira coisa que me veio à mente. Nunca me esqueço dos seus olhos atentos e o semblante de quem genuinamente queria ouvir o que eu tinha pra dizer.
Anos mais tarde, foi você quem me ofereceu a oportunidade de ocupar o meu primeiro cargo de gestão. E não era um cargo qualquer né?
A ideia de sentar na sua cadeira e preencher o vazio que um líder como você deixaria depois de 10 anos à frente do cargo foi tão assustadora quanto gratificante. Sem essa oportunidade de coordenar aquela equipe, eu não estaria aqui hoje.
A verdade é que você me acostumou mal, viu? Porque logo no início da minha carreira você me mostrou que comunicar com a alma e fazer com paixão nos permite ajudar ao próximo por meio do nosso trabalho.
Isso me transformou em alguém que desde cedo carregou valores muito fortes por onde passei.
E quanto ao artigo?
Bem, ele, de fato, ficou muito bom. Mas o que ficou entre nós depois daquele projeto foi muito melhor: a certeza de que o que realmente importa é a conexão. Aquela que soma, que junta, que dá forma. E que sempre será a melhor escolha em qualquer tipo de relação.
Com (muito) carinho,
Lu



