#01 - a primeira
Escrevo essa carta sem saber muito bem aonde ela vai chegar. Só sei que ela precisa chegar.
Queimada ou queimado?
No Rio de Janeiro, minha cidade natal, a gente chamava de queimado mesmo, no masculino.
Era meu jogo preferido quando eu tinha uns nove anos e estava na quinta ou sexta série - a única atividade fisica que eu gostava de fazer na escola. Lembro que na hora do recreio, eu trocava o lanche por uma partida a mais. Eu falhava em todos os esportes das aulas de educação física, mas no jogo de queimado, eu e uma outra menina da turma éramos líderes absolutas!
Esse era, inclusive, o único momento em que os meninos não debochavam e implicavam com a gente.
Que doido perceber que nós mulheres, precisamos, desde meninas, de um elemento externo pra validar a nossa liderança.
Eu e minha amiga sabíamos que éramos boas, tanto que todo mundo queria ficar no nosso time e até pediam pra jorgarmos separadas, porque juntas, erámos consideradas “invencíveis”.
Além de não ter idade pra compreender o siginificado dessa palavra, a gente nem se via dessa forma. E também não competíamos uma com a outra quando em times diferentes, mesmo com toda a energia do entorno nos puxando pra esse caminho - a falácia da rivalidade feminina.
Foi só quando os meninos começaram a pedir para fazerem parte dos nossos times vencedores que a gente se deu conta do que hoje entendo como a nossa liderança naquele espaço.
Talvez esse tenha sido o meu primeiro contato com a liderança.
(E talvez por isso eu pense, cada vez mais, na importância de uma educação comportamental desde a infância).
Mas essa carta não tem a intenção de mudar os rumos da educação infantil. Muito menos de exaltar o quanto a nossa sociedade ainda coloca a mulher numa caixinha separada quando o assunto é liderança.
Essa carta é um convite.
Um convite para nos percebermos líderes das nossas escolhas a partir das pequenas coisas do dia a dia: uma palavra, um ritual, uma intenção…
Um chamado para que você se atente à liderança que realmente importa: aquela que existe dentro de você.
Essa ideia vem me acompanhando há alguns meses, desde que comecei a enxergar meus escritos manuscritos com olhos de artista - obrigada por isso, Julia Cameron!*
Encontrei, nesses registros à mão, motivos para sorrir, palavras borradas em lágrimas e memórias enriquecedoras.
Um compilado de erros, acertos e consequências, que podem te ajudar a criar novas histórias sobre a sua liderança também.
Uma vez eu ouvi que o melhor da vida é o que a gente quer dela.
Por aqui, sigo aprendendo a ressignificar minhas rotas pra encontrar o meu querer no caminho.
Porque quando a gente foca no que falta, a gente perde o que já tem. Mas quando focamos no que temos, ganhamos energia para conquistar o que nos falta.
Sim, dá medo.
Encontrar a sua liderança é um processo que vai te fazer repensar quem você realmente é.
“Se travo no sinal não é defeito; é coragem em guerra com medo.”
Mallu Magalhães e Léo Middea cantam o que a gente sente quase que diariamente.
Compartilhar meus relatos é uma forma de aliviar essa tensão, de tornar esse caminho mais leve e menos solitário, pra mim e pra você.
Escrevo essa carta sem saber muito bem aonde ela vai chegar.
Só sei que ela precisa chegar.
Para que cada vez mais mulheres possam ocupar espaços de liderança e se sentirem invencíveis de forma consciente, sem deixar o medo liderar.
Posso contar com você pra me ajudar?
Um abraço,
Lu
Notas
*Julia Cameron é autora do livro O Caminho do Artista, leitura que resgatou minha vontade de escrever e criar, sem me julgar. Recomendo demais, para qualquer pessoa, em qualquer momento da vida.



