Ouvi um barulho de alguma coisa caindo e já desci as escadas chamando atenção da Stella (a vira-lata sapeca que mora aqui em casa), mas dessa vez ela era inocente. Quando me aproximei da cozinha, vi um pássaro preto e grande voando de um lado pro outro. O bico colorido não deixou dúvidas: um tucano tinha entrado na minha cozinha e não estava conseguindo sair sozinho.
Talvez você tenha chegado há pouco tempo e não saiba, mas eu atualmente moro no sul da Bahia, numa casinha muito charmosa na zona rural da cidade de Itacaré. Recebo visitas regulares de muitas espécies de aves, inclusive tucanos, mas essa foi a primeira vez que ele entrou, de fato, dentro de casa.
O tucano se debatia tanto, que ficou difícil entrar na cozinha para ajudá-lo. Enquanto meu cérebro entendia o que estava acontecendo, começou a formular hipóteses: ele foi seduzido pelo reflexo da janela de vidro, acabou entrando pra explorar e quando se viu lá dentro, percebeu que tudo era muito diferente do que ele estava acostumado. O nervosismo veio quando se deu conta disso e assim, começou a se debater, voando de um lado pro outro, derrubando garrafa, panela e dando pancadas nas paredes, sem conseguir encontrar a saída - a janela pela qual ele havia entrado.
Nesse vai e vem, possivelmente se machucou e, literalmente, se cagou inteiro de medo (sério, depois eu tive que limpar a cozinha toda!)
Qualquer semelhança dessa história do tucano com o que se vive quando nos encontramos em situações que não temos controle ou não conhecemos, não é mera coincidência. Ele entrou por acaso ao ver uma janela aberta, vale lembrar.
Já parou pra pensar que muitas vezes você se coloca em determinadas situações "por acaso"?
Os Titãs nos disseram que o acaso vai nos proteger enquanto andarmos distraídos. Já o Zeca Pagodinho, nos trouxe a perspectiva de que basta confiar e deixar a vida nos levar. Longe de mim travar uma batalha entre o rock nacional e o pagode raiz, ambos carregam suas sabedorias. Mas, o fato é que, quando não fazemos escolhas com intencionalidade, o acaso deixa de ser uma eventualidade; ele se torna o direcionador das nossas decisões. E quando não temos clareza do porquê estamos fazendo ou optando por algo em específico, fica mais difícil lidar com o desconhecido. Assim foi com o tucano quando se viu dentro da cozinha. O acaso o levou até ali e, ao perceber que não era um lugar que ele conhecia ou gostaria de estar, ele se desesperou e não conseguiu encontrar a saída.
É isso que acontece quando deixamos o medo falar mais alto. O sentimento se torna tão forte que alimenta as nossas inseguranças e faz a gente não conseguir enxergar como sair de onde estamos.
No caso do tucano, eu dei a volta por fora da casa, abri as outras janelas da cozinha e a porta, para que ele identificasse diferentes possibilidades de saída. Mas nem sempre esse elemento externo vai existir no seu caso, na sua situação adversa.
Muitas vezes você vai precisar ser capaz de olhar para a situação como se estivesse de fora, para que consiga aprender a lidar com esse medo.
Você sabe que os nossos medos nos acompanham porque são um mecanismo de defesa, né? É a forma que nosso cérebro encontrou de nos alertar sobre situações que podem afetar necessidades básicas que todos nós temos de nos mantermos vivos, em segurança, com o amor das pessoas que nos cercam e nos sentindo bem com a gente mesmo.
Quando você aprende a sair de dentro das situações para conseguir enxergá-las com mais clareza, você se torna capaz de agir apesar do medo. É assim que você vai desenvolvendo a habilidade de conviver com o desconhecido - ainda tirar proveito disso!
Bom, pelo menos pra mim, tem sido assim.
Libertar o tucano do medo da cozinha desconhecida me fez querer te lembrar sobre o quanto é preciso, a todo momento, observar se as suas decisões estão sendo tomadas pelo medo ou com intenção e consciência.
Se você se sente como o tucano e tem medo de lidar com o desconhecido, já pensou que pode ser essa a razão de você não conseguir sair de onde está?
A boa notícia é que, se você quiser, eu posso te ajudar.
Aqui tem um resumo da forma que encontrei de fazer isso.