#36 - aquela que eu feri sem querer
A liderança te ensina que coisas importantes precisam ser ditas.
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Lembro que você arregalou os olhos e ficou ligeiramente pálida. Talvez muito sem graça, pois o estagiário da equipe também estava na sala. Eram pouco mais de 8h da manhã e eu já estava tensa com a agenda lotada (e caótica) do dia. Tão tensa que não percebi o quanto fui rude com você.
É provavél que você nem tenha internalizado o sentimento desse dia. Mas toda vez que penso nele, sinto vergonha do meu comportamento e fico triste com minha escolha de tom de voz e palavras. Seria muito fácil colocar a culpa no burnout e no turbilhão de emoções que mexiam com a minha cabeça adoecida. Mas depois que a gente aprende a observar nossos comportamentos e se autorresponsabilizar pelo impacto que eles geram no outro, não tem volta.
Por ter sido a primeira de um time que se tornou gigante depois, eu sempre tive um carinho especial por você. Sua iniciativa e comprometimento com a causa pela qual lutávamos sempre me encantaram - foram eles, inclusive, que me chamaram a atenção no processo seletivo. Confesso que fiquei muito em dúvida entre você e a Marcelle (nunca me esqueço dela!), que também me ganhou por conseguir demonstrar, em uma única conversa, a conexão dos seus valores pessoais com o trabalho que viria a realizar na empresa.
Mas eu precisava escolher e decidi escolher você.
A menina do sorrisão que aceitou enxergar o propósito daquele trabalho com as mesmas lentes que eu. Aquela que se tornou a questionadora de opiniões e incomodou colegas pela sua vontade de ser mais e fazer mais. Durante muito tempo eu carreguei essa culpa de ter sido rude com você nesse dia, mas a verdade é que, no fundo, eu sabia que a minha ausência e falta de disponibilidade em vários outros foram as verdadeiras responsáveis por te fazer sentir desamparada, ainda que involuntariamente. Penso que, em determinado momento, eu deixei de ser uma líder e me tornei apenas uma gestora pra você (liderança é sobre comportamento e não sobre cargo, lembra?)
Essa carta é, então, um pedido de perdão tardio, mas muito genuíno.
A gente se fala normalmente até hoje e nunca abordamos isso. Mas se tem uma coisa que aprendi com a liderança é que coisas importantes precisam ser ditas.
Eu sinto muito por ter feito da minha dor um motivo para causar a sua, ainda que de forma breve e não intencional. Fico muito feliz toda vez que recebo uma mensagem sua ou vejo algo que você está construindo. Desejo que você siga buscando o seu próprio caminho, para se tornar a líder que eu sempre acreditei que você pode ser.
Com carinho,
Lu.
E se você leu essa carta e lembrou de alguém que você feriu, te convido a escrever a sua carta de perdão pra ela - no fim, vai perceber que quem precisa se perdoar é você.
É incrível como a gente, enquanto líder, também impacta as pessoas da equipe com nossas palavras - e, até muito antes delas, com nossa forma de ocupar os espaços. Sentia muito isso com a minha equipe: eles percebiam a forma como eu chegava muito antes de eu abrir a boca e falar algo. A gente também impacta no sutil.
Tenho certeza que, embora martele na sua cabeça esse dia, se perdoar é fundamental - e a atitude de pedir desculpas é mais importante e inspiradora ainda.
Liderança é algo incrível mesmo, eu sou apaixonada <3