Na infância, eu mudei de casa algumas vezes.
Saí do Rio de Janeiro e fui pra Belo horizonte com 6 anos - lembro da gente chegando em BH com muitas caixas e uma empresa cuidando de tudo junto com a minha mãe, o que me pareceu um processo muito simples.
Lembro também de quando voltamos pro RJ alguns anos depois e fomos morar na casa da minha avó - um apartamento de classe média na zona norte, com 3 quartos e 2 banheiros, em que, durante alguns anos, moraram 7 adultos e 2 crianças.
Essa mudança já não foi tão glamourosa. Viemos de carro e não lembro como nos desfizemos ou transportamos nossos pertences. Passamos muito tempo nesse apartamento da minha avó, até meu pai conseguir se reerguer profissionalmente - nossas mudanças sempre giraram em torno (do trabalho) dele.
Daí depois, já adolescente, fomos morar no apartamento dos sonhos dos meus pais, em que eu, aos 14 anos, tinha um quarto enorme com suíte e uma linha de telefone privada só pra mim (o luxo da geração que viveu a internet discada).
Acredito que esse tenha sido o lar mais confortável que tive até hoje, em termos de espaço e estrutura mesmo. Depois de lá, nos mudamos algumas vezes para apartamentos menores, porque foi a época em que minha família viveu uma crise financeira em função de alguns comportamentos que meu pai escolheu adotar - naquela época eu tinha nenhuma noção de que, anos mais tarde, o comportamento humano seria uma ferramenta de trabalho e estudo; hoje sei que tudo o que passei nessa fase da vida me preparou pra esse exato momento pessoal e profissional.
Depois disso eu comecei a ter mais independência. Fui morar com a minha tia por um tempo em Ipanema, zona sul do RJ, porque fazia pós-graduação em Copacabana e trabalhava na Barra da Tijuca (sim, a vida era corrida e não tinha tempo de aproveitar o mar na esquina de casa).
Escrevo isso lembrando da exata sensação daquele período: eu não me sentia em casa. Minha vida era quase nômade, eu dividia minha semana em:
dias no apartamento da minha tia
dias na minha avó
dias na casa do meu namorado
Eu só conseguia pensar: quero muito ter a minha casa.
Talvez esse tenha sido um fator significativo para acelerar o próximo passo da relação e me levar a morar junto com esse namorado. Casamos e alugamos um apartamento próximo às nossas famílias, com a estrutura que a gente precisava naquele momento. Eu tinha 26 anos e estava enfrentando os primeiros desafios reais da minha carreira e também da vida a dois.
Quando esse relacionamento terminou, entendi que precisava mudar algumas coisas na minha vida, mas tinha medo. Ocupava o meu primeiro cargo formal como gestora de uma área e sentia como o compromisso que uma liderança assume, precisa ser por inteiro. Nessa mesma época, meu pai, com quem eu não mantinha uma relação próxima, estava muito doente e eu, minha mãe e meu irmão tivemos que reorganizar nossas rotinas para conseguir oferecer o cuidado que ele precisava.
Quando ele nos deixou, finalmente tomei a decisão de sair do apartamento que trazia tantas lembranças de relacionamentos e momentos difíceis. Já trabalhava em uma nova empresa e estava empolgada com a oportunidade de fazer a gestão do rebranding de uma marca com quase 50 anos de existência. Esse desafio foi um divisor de águas na minha carreira e também na minha vida. Foi ele quem me levou ao apartamento da Barata Ribeiro, em que vivi tantas alegrias, angústias, conquistas e recomeços ao longo de 6 anos.
Escrevendo isso agora, percebo o quanto todas essas mudanças descritas aqui estiveram sempre associadas a um elemento externo: um trabalho, uma questão de família, um relacionamento…
A decisão de vir morar na Bahia em 2023 também teve uma pequena influência externa (isso eu te conto em outra carta), mas foi a primeira vez que escolhi mudar pensando no que era importante pra mim e, consequentemente, pra minha família.
Depois de quase um ano dessa decisão, que mudou a minha forma de enxergar o mundo e vida, a escolha de mudar novamente de casa se mostrou tão óbvia quanto necessária. No processo de busca pelo novo espaço adequado ao nosso momento, acessei pela primeira vez, em muito tempo, o sentimento de estar em casa.
Pode parecer bobo, mas, pra quem viveu boa parte da vida desconhecendo isso, estar aqui hoje é ter a certeza de que cada pequena decisão que vem do coração importa.
Essa é a mensagem que eu quero que você leve dessa carta: você é aquilo que escolhe ser diariamente.
Cada pequena atitude que toma no seu dia a dia influencia diretamente naquela grande decisão que você tem medo de tomar. Lá em 2016 eu já sabia que queria mudar, mas o meu medo era maior que os meus sonhos.
De lá pra cá, eu fui me colocando em movimento, mesmo com medo, e fazendo escolhas que naturalmente me trouxeram até aqui. Então hoje eu te convido a refletir sobre isso comigo e a acreditar que é possível fazer com que os seus sonhos sejam maiores que os seus medos.
Você só precisa escolher.
Adorei Lú!